Entrevista com o fundador e CEO Ricardo Félix: as origens e os desafios da Logistema - parte 2
Nesta segunda parte, Ricardo Félix, Fundador e CEO, reflete sobre o impacto dos primeiros clientes na Logistema e mergulha na evolução dos serviços da empresa e o seu futuro na Logística e na Supply Chain.
- De que maneira o projeto do Centro de Operações Logísticas para o Grupo Luís Simões projetou a Logistema no mercado?
Para nós, Logistema, foi um trabalho que marcou muito a nossa presença no segmento de mercado de serviços logísticos. Já tínhamos entretanto feito projetos, mas este foi uma plataforma logística especial pela inovação e dimensão, e pelo momento. Já tínhamos boa reputação em termos de detentores de competências na área da logística porque iniciámos os serviços logísticos 3PL para a Logística de negócio em Portugal, e ao nível do pensamento estratégico para os transportes e logística, mas este foi projeto âncora.
O conceito de logística é contra-intuitivo.
- De que modo os primeiros clientes impactaram a evolução e a inovação dos serviços que a Logistema oferece?
Nós apanhámos, nessa altura, um conjunto de projetos muito importantes que nos criaram condições para podermos ter presença nas três grandes áreas onde viríamos a desenvolver e evoluir o nosso negócio: Serviços, Produção e Distribuição. O Grupo Luís Simões na área dos serviços, a Lactogal na área da produção e distribuição e o Grupo Grula, um grupo de cooperativas que integrava os maiores grossistas da área alimentar do país e que abasteciam uma parte do comércio tradicional de norte a sul, na área de distribuição. Nós criámos um portefólio e uma reputação que nos permitiu endereçar, a partir daí, qualquer destes mercados.
Quanto à inovação, a inovação na Logistema tem três componentes: a componente de logística de negócios, que engloba processos, organização, infra-estruturas e sistemas informáticos; a componente estratégica das empresas como a do Grupo Luís Simões (parte 1), da Lactogal e do Grupo Grula; e a componente estratégica a nível nacional, que desenvolvemos com conceitos como “Portugal Logístico” para evidenciar politica e tecnicamente as necessidades que Portugal tinha de suprir para garantir a atratividade para o bom investimento. Por bom investimento quero dizer, que acrescente valor e com empregos bem remunerados e com sustentabilidade.
Ao nível da inovação dos sistemas de informação, a Logistema foi a primeira empresa do país a desenvolver um sistema de gestão de armazéns em Portugal: a primeira versão do Warepack foi um produto absolutamente pioneiro no país.
Estes primeiros clientes e estes primeiros passos deram-nos melhor posição no mercado, e fizeram-nos adquirir um conjunto de experiências que depois pudemos partilhar e pôr ao serviço de outras empresas.
- Quais as diferenças que nota entre 1993 e o atual momento que se vive no mercado?
Bom, a diferença é abissal, não é? Como eu dizia no início, a logística era um conceito que não existia até ao final dos anos 80 aqui em Portugal. A meio dos anos 80 tinha-se começado a desenvolver nos Estados Unidos e Inglaterra, mas isso é uma história para outro dia.
O conceito de logística é contra-intuitivo, a gestão otimizada da interdependência do transporte e do armazenamento para a criação de valor era difícil de entender. Hoje é um dado adquirido, inclusive, hoje, o conceito está banalizado: mesmo quando não se faz uso desta otimização, basta que haja armazenamento, basta que haja transporte, já é confundido e designado como logística. Mas, de facto, estamos num período de grande maturidade do ponto de vista logístico. Já não são precisas ações de evangelização, como em 1993 se fazia através da APLOG.
Demos um passo adiante, na primeira década de 2000, depois de se começar a entender e a perceber bem qual era o potencial de criação de valor que a logística permitia. Começou a aparecer a necessidade e oportunidade de integrar a otimização interdependente de outras dimensões e componentes, da cadeia de valor como as fases de marketing estratégico, e a cadeia de abastecimento com o procurement e produção e distribuição, que incorporam os produtos e fornecedores, e que vão ter um impacto ao longo de toda a cadeia quer no transporte, quer no armazenamento, até à entrega final ao cliente. Portanto, todas as componentes que fazem parte da cadeia de valor e da cadeia de abastecimento passaram a ser alvo de atenção por parte da gestão. E isso é uma enorme diferença que existe entre 1993 e 2024: É a consciência do potencial de criação de valor que a logística adquiriu.
Hoje, o mercado vai evoluindo para uma maior normalização e homogeneização dos processos. As boas práticas vão começando a normalizar-se porque os sistemas informáticos utilizados para as operações obrigam a uma certa padronização.
A Logistema concentra-se, hoje, nessa problemática e nessas necessidades e tem-se dotado de conhecimento e ferramentas, como o Flow-Pack, WebPack e Warepack, para poder ajudar as empresas nestes novos sentidos.
- Como é que a Logistema irá evoluir para responder às necessidades do futuro da Logística e de Supply Chain?
A Logistema tem feito o seu caminho com esta história. Começou por prestar serviços de consultoria logística, em processos e organização e sistemas de informação e gestão de operações, por fornecer sistemas de IT e disponibilizar serviços de formação e treino para as pessoas.
A partir do início do século começámos a dar passos importantes na inovação no suporte à cadeia de abastecimento, com o planeamento colaborativo, com a gestão de comunidades e com o desenvolvimento de sistemas informáticos que, hoje, estão a alicerçar e suportar as evoluções que o mercado está a fazer ao nível da logística e da gestão da cadeia de abastecimento.
Neste momento, temos em curso, já com partes implementadas, outras ainda em desenvolvimento, sistemas de nova geração, 100% digital, que permitem o suporte integral à supply-chain dos nossos clientes, dos seus fornecedores e dos clientes dos nossos clientes.
Na vertente de consultoria propriamente dita, temos reforçado as competências na área de supply-chain e temos vindo a desenvolver produtos para necessidades específicas, como por exemplo para a logística urbana, com o LOOP, e para a gestão das comunidades e da gestão integral das suas cadeias de abastecimento, por exemplo para a cadeia de abastecimento e logística da aquacultura.
Portanto, nós temos vindo a desenvolver as nossas competências e as nossas ferramentas de modo a progredir para a maturidade na gestão da supply-chain e da gestão da cadeia logística, preparando-nos para ingressar em mercados mais abrangentes.
Finalmente, queremos dar um salto quântico com a introdução de tecnologias de blockchain e dotar as nossas ferramentas de gestão logística e da supply-chain com capacidades de IA, que permitem tirar partido da grande quantidade de dados – big data – presentes nas cadeias de abastecimento.