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Maersk, MSC e a CMA CGM uniram esforços, através da aliança "P3 Network"

Aumento de preços ou abandono de portos portugueses. São estas as consequências mais temidas pelas empresas de portos e logística em Portugal como resultado da aliança "P3 Network" entre os armadores Maersk, MSC e CMA CGM. E o porto de Sines poderá ser o mais beneficiado, em relação a Lisboa ou Leixões. Mas também pode perder.

"Os carregadores e associações do mundo estão relutantes em encarar isso como uma aliança puramente operacional, porque a partir do momento em que três empresas multinacionais se sentam à mesa a tendência é também para discutir preços e relação com os clientes. O facto de usarem os mesmos navios vai levá-los nesse sentido", alertou ao Negócios Fernando Grilo administrador da Logistema, empresa especializada na gestão de sistemas logísticos.

A questão tem sido debatida a nível associativo. Alcibíades Paulo Guedes, presidente da APLOG (Associação Portuguesa de Logística) explica que "não sendo conhecidos detalhes deste acordo, pela informação obtida de alguns exportadores relevantes do mercado nacional, existem mais riscos do que oportunidades".
O mesmo responsável garante que "o tráfego P3 vai utilizar apenas um porto em Portugal e o mais provável é que seja Sines (está no radar do P3), que poderá ser beneficiado pelas rotas, com escala em Sines. O porto que poderá ser mais penalizado é o de Lisboa, porque muitos dos tráfegos actualmente efectuados pela Maersk e CMA por este porto poderão vir a ser deslocalizadas para Sines. Leixões poderá também sofrer algum impacto negativo".

Fonte ligada à Tertir, do universo Mota-Engil (que detém várias concessões portuárias) reforçou que o porto de Sines pode ganhar com a aliança, mas também corre riscos. "O maior impacto será nos portos de ‘transhipment’", isto porque as três armadoras podem decidir concentrar a operação num só terminal e abandonar outros. E recordou que o porto de Sines tem como principal cliente a MSC, um dos elementos desta parceria, que se decidir trocar de porto, muda toda a operação.

Já a APLOG salienta que "esta aliança de empresas armadoras vai determinar os fluxos comerciais e os ‘hubs’ utilizados, de acordo com: a capacidade instalada e a tipologia dos navios, a localização dos portos (operações 100% controladas) e o interesse dos clientes destas empresas. O nível de concorrência vai baixar e os destinos/origens que ficarem na fora destas grandes rotas/periferia poderão ver agravados os custos de transporte", salientou Alcibíades Paulo Guedes.

Fernando Grilo diz que as empresas irão perder margem de manobra. "Neste momento negoceiam com cada um dos operadores. No futuro têm que contar com esta aliança operacional. Praticamente estão a negociar com um apenas".

Estas preocupações mantêm-se para já no futuro. "Não notamos o aumento dos preços porque esta aliança só vai ter efeitos práticos depois da União Europeia e das autoridades dos EUA autorizarem". E isso deverá ser em meados de 2014. Entretanto a União Europeia lançou uma investigação sobre uma alegada concertação de preços em 14 empresas, incluindo a Maersk e a MSC. Este processo é separado da análise da P3, que já se iniciou em Bruxelas.

Notícia elaborada pela jornalista Alexandra Noronha e publicada na edição de dia 3 de Dezembro de 2013 do Jornal de Negócios