Como a guerra de tarifas impacta as Cadeias de Abastecimento (Supply Chains)

 

 A guerra de tarifas criou um ambiente semelhante ao de um período de guerra para as cadeias de abastecimento globais, exigindo uma adaptação rápida e radical das empresas e instituições. Esta adaptação abrange processos, sistemas, tecnologias, talentos e, crucialmente, investimentos em infraestruturas – alimentando o ciclo fechado de transformação da cadeia de abastecimento de forma violenta e impulsionada pelo protecionismo e pela ineficiência.

As cadeias de abastecimento têm massa, movimento e inércia – suportadas em infraestruturas – e, apesar das ligações entre sistemas ocorrerem à velocidade da luz, os seus fluxos têm ciclos longos.
Embora a economia se baseie na fenomenologia estatística, a eficiência da cadeia de abastecimento exige que os erros de previsão sejam contidos para reduzir as redundâncias e dependências.

Quando atravessamos um período de guerra, são assumidos pressupostos e condições que presumem que o teatro de guerra não se desenrola semanal ou diariamente. Quando há uma guerra na Europa, assume-se o teatro de operações e as suas condições. Os mercados são parcialmente interrompidos, as cadeias de abastecimento são reestruturadas com base em novas origens, por vezes incorporando novos materiais, serviços e fontes de energia.

No entanto, quando surge um conflito na Europa, o teatro e os seus parâmetros específicos tornam-se restrições operacionais imediatas. Os mercados podem ser parcialmente interrompidos e as cadeias de abastecimento são reconfiguradas – procurando novas origens, incorporando materiais, serviços e fontes de energia alternativos.

 

poker economics

 

Quando as regras económicas permitem a circulação contínua de bens, materiais e acesso a territórios, mas as previsões de preço e disponibilidade variam em mais de 50% em períodos indefinidos, as cadeias de abastecimento são obrigadas a adaptar-se ao limite da viabilidade operacional. Isto ocorre à custa de investimentos espúrios, incluindo a rápida realocação de capacidades, novos fornecedores, novas tecnologias e novos processos.

O maior desafio neste novo cenário reside na promoção da cooperação, colaboração e parcerias estratégicas entre os agentes económicos e as instituições nas cadeias de abastecimento e de valor.

Em tempos de paz, as relações comerciais são tipicamente moldadas por produtos e transações eficientes, alinhados com as estratégias de marketing e de capital. Em tempos de conflito, porém, as alianças estratégicas e as prioridades operacionais vêm ao de cima.

A atual guerra tarifária está a obrigar empresas e instituições fora dos EUA a estabelecer novas parcerias e a realizar investimentos que seriam improváveis — ou até mesmo impensáveis — em condições normais de mercado. Dentro dos EUA, isto está a levar a investimentos espúrios, como a expansão da capacidade de armazenamento, visando apoiar políticas especulativas enraizadas na "poker economics" do actual governo.

Isto marca também uma mudança do paradigma global de "desenhado na Califórnia e fabricado na China" para "desenhado em Shenzhen/mundo e fabricado nos EUA", financiado por tarifas em vez de seguir a lógica de mercado. No entanto, os benefícios esperados poderão nunca se concretizar — a não ser, claro, que o desempenho económico nunca tenha sido o verdadeiro objectivo.

O Brasil é um exemplo convincente disso.