A prova de 200 metros consiste num desafio muito técnico, uma vez que parte da corrida é feita em curva.
O esforço exigido aos ossos e músculos faz com que não seja raro ver atletas lesionados. Não se trata de uma prova de explosão, como os 100 metros, nem uma prova de resistência como os 400. O segredo passa por correr bem na curva.

A actividade logística em Angola é uma corrida com várias curvas. Muitas empresas nacionais e estrangeiras têm comprometido bons negócios porque não suportam o esforço que essas curvas exercem sobre a sua organização.
Algumas dessas empresas, sejam industriais, comerciais, de transportes ou logística, possuem técnica e estão habituadas a corridas de 100m, que ganham na Europa ou Estados Unidos, com base em sistemas de informação avançados e quadros qualificados. Têm experiência em corridas que ganham devido à sua capacidade de explosão (e de recursos). Mas essa experiência não é replicável em Angola.
Se a largada da corrida tiver lugar na importação, há que programar e gerir uma cadeia de abastecimento que pode prolongar-se por meses e estar sujeita a dificuldades logo à partida. A imobilização dos contentores nos terminais, mesmo nos Europeus, durante semanas a aguardar embarque por motivo de “overbooking” ou por inoperacionalidade dos terminais não são infelizmente situações raras.
Angola é especial. Logo à entrada é necessário ter em conta a barreira portuária onde existem duas curvas com pouca visibilidade: a dos terminais portuários e a das alfândegas.
É com alívio que o importador vê sair do terminal portuário o contentor em cima do camião, mas essa sensação desaparece se ao abri-lo verificar que a carga vem danificada. O importador não sabe que o contentor viajou em dois ou três navios, sofrendo movimentos em terminais de portos distantes como Tânger, Algeciras, Lagos, Ponta Negra, Durban ou Singapura. Se soubesse teria negociado de forma diferente com a linha marítima ou o transitário.
Se a largada da corrida for interna, com início em alguma exploração agrícola ou fábrica nacional, as curvas são menos pronunciadas e mais visíveis. Mas a pista, as infra-estruturas, armazéns ou centros de distribuição, levantam importantes barreiras. Faltam plataformas logísticas de apoio à actividade agrícola e ao comércio. Falta uma rede de frio.
Na Logística em Angola os últimos 100 metros da corrida, são ainda mais desafiantes que os primeiros. Em muitas situações o contentor é aberto na rua, em cima do camião e descarregado caixa a caixa para um armazém com condições limitadas. O produto sofre. O consumidor final não vai gostar. Comprará naquele armazém apenas enquanto não tiver alternativa.
Luanda é hoje uma das cidades mais caras do mundo. Mas tal não acontece porque o valor de compra dos produtos oriundos de Portugal, Brasil ou China seja elevado, mas antes porque estes 200 metros barreiras envolvem riscos, lesões e muitas despesas com curativos.
Perante as dificuldades, a maior parte dos empresários optam por uma logística própria: o seu camião, o seu armazém, o seu empilhador e o seu computador. Uma situação que não tem futuro, pois as grandes cadeias de distribuição têm vindo a investir fortemente em logística moderna, com a qual as pequenas e médias empresas não têm possibilidade de competir. É tempo de se instalarem operadores logísticos, que proporcionem serviços de qualidade para todo o mercado.
As empresas a operar em Angola só terão a ganhar com um modelo de organização que proporcione aos clientes produtos com qualidade e preço competitivo. Para isso não devem ter receio de recorrer a aconselhamento especializado, que lhes faculte conhecimento e os apoie a implementar as soluções que propõem.
Luanda pode deixar de ser a cidade mais cara do mundo. Graças à Logística.

Artigo publicado na edição de dia 20 de Dezmebro de 2013 do Jornal angolano Expansão